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sábado, 6 de junho de 2015

CICERO CANUDO DE LIMA:OPOSIÇÃO AO ENSINO TEOLÓGICO

Cícero Canuto de Lima

"Sentado em uma velha poltrona, entregue
 seus pensamentos". Assim descreveu a 
reportagem daFolha de São Paulo o velho 
pioneiro e antigo pastor das Assembleias de 
Deus no Brasil. Aos 89 anos de vida e 60 de 
ministério, Cícero ainda conservava "o sotaque 
de 
sua terra e a marca de caráter de um homem
 que foi formado na luta diária contra a terra 
árida e na formação mais rígida que as
 Igreja Pentecostais já tiveram no Brasil". 
Reclamava 
dos
 rumos da igreja, do sucessor e do seu 
esquecimento.

Pastor Cícero: para ele era "mortalmente perigoso um obreiro adquirir tanta eficiência"
Esse relato sobre o patriarca, é uma imagem
 que realmente a história oficial da denominação 
não pretende divulgar. Assim como o mítico 
missionário sueco Daniel Berg, Cícero foi relegado
 ao ostracismo após não fazer seu sucessor no 
ministério, e perder seu poder e influência 
na denominação que ajudou a construir.

Mas quais seriam as outras características da 
vida e ministério de Cícero Canuto de Lima? 
Somente quem conviveu com o pioneiro 
poderia responder essas questões. José W. 
Bezerra da Costa, em sua biografia escrita por
 Isael de Araújo cede algumas informações, 
mas é a versão de José Wellington, ou seja, seu 
ponto de vista acerca do velho pioneiro dentro
 do convívio ministerial. Porém, nesse reduzido 
espaço se tentará oferecer um panorama desse
 ícone assembleiano.
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Gedeon Alencar em sua tese de doutorado e em 
tom crítico, destaca o fato de Cícero (assim como 
Paulo Macalão) ter sido ainda muito jovem separado
 ao pastorado. Mas conforme o tempo passou, o 
líder assembleiano não proporcionou oportunidades 
aos mais jovens. Via com desconfiança 
qualquer novidade nos apriscos da AD, e relutava 
contra as transformações em andamento na igreja.

Para se ter um exemplo disso, quando a implantação
 de institutos bíblicos estava em andamento nas 
ADs, pastor Cícero de Lima fez questão de 
entrevistar pessoalmente o pastor da igreja 
Filadélfia Willis Sawe e, nas linhas do Mensageiro
 da Paz ( maio de 1967 p.4), refutar o modelo
 de formação de obreiros que se pretendia implantar 
nas igrejas. Na época, se usava o exemplo da igreja 
sueca, a qual teria uma escola de preparação 
para obreiros chamada de Kaggeholm. A entrevista,
 é dirigida de forma a esclarecer, que a famosa escola 
era na verdade uma instituição de formação primária,
 e não um seminário teológico. 

Tirada essa dúvida sobre a função da instituição, 

Cícero afirma que não havia desprezo pela cultura 
em si, mas que numa escola teológica os obreiros
 são "estampados", ou seja, ficam determinados a 
um "molde", perdem sua "originalidade pessoal". 
Para ele era "mortalmente perigoso um obreiro 
adquirir tanta eficiência, que perca a humildade 
e não dependa de Deus". Salienta ainda que 
"não localizamos nas Escrituras que nos dias 
apostólicos houvesse qualquer educandário que 
formasse pastores e pregadores" pois na sua visão
 os obreiros deveriam confiar "somente" e 
"inteiramente" na ajuda do Espírito Santo.

Quase 15 anos depois dessa entrevista, o patriarca 
declara a Folha que: "O Espírito de Deus se encarrega
 de nos iluminar, de nos orientar". Até o fim da 
vida afirmou isso, pois segundo ele, seria melhor 
gastar dinheiro com a evangelização do que
 na construção de seminários. Sabe-se que o IBAD 
foi erguido e iniciado em Pindamonhangaba (SP) 
contra vontade geral da cúpula assembleiana, e ainda
 por cima na jurisdição eclesiástica do Belém. Não
 foi fácil o convívio dos fundadores do IBAD com 
Cícero de Lima, o qual representava a oposição
 ao modelo de ensino teológico que se tentava 
implantar nas ADs no Brasil.

Cícero até o fim da vida foi fiel aos seus princípios.
 Mas percebeu que a igreja e o ministério, o qual 
ajudou a construir tomavam um rumo diferente do
 que ele queria. Seu ostracismo revelava que 
novos tempos estavam se impondo. José Wellington,
 em sua biografia, ao narrar os lances da sucessão do 
seu antigo pastor, lembra uma frase, a qual seria 
uma síntese do que Cícero de Lima vivia. Ao ver 
seu indicado ser rejeitado no ministério do Belém 
para sucedê-lo, teria dito: "Eu não estou mandando 
é mais nada. Vou embora".  Por ironia do 
destino, a escola teológica fundada no Ministério
 do Belém em SP, após sua morte levou o seu nome. 

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