(1792-1875)
Perto da aldeia de New York Mills, no século
dezenove, havia uma fábrica de tecidos movida pela força das águas do
rio Oriskany. Certa manhã, os operários se achavam comovidos,
conversando sobre o poderoso culto da noite anterior, no prédio da
escola pública.
Não
muito depois de começar o ruído das máquinas, o pregador, um rapaz alto
e atlético, entrou na fábrica. O poder do Espírito Santo ainda
permanecia sobre ele; os operários, ao vê-lo, sentiram a culpa de seus
pecados a ponto de terem de se esforçar para poderem continuar a
trabalhar. Ao passar perto de duas moças que trabalhavam juntas, uma
delas, no ato de emendar um fio, foi tomada de tão forte convicção, que
caiu em terra, chorando. Segundos depois, quase todos em redor tinham
lágrimas nos olhos e, em poucos minutos, o avivamento encheu todas as
dependências da fábrica.
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O diretor, vendo que os operários não podiam trabalhar, achou que seria melhor cuidassem da salvação da al-ma, e mandou que parassem as máquinas.
A comporta das águas foi fechada e os operários se ajuntaram em um
salão do edifício. O Espírito Santo operou com grande poder e dentro de
poucos dias quase todos se converteram.
Diz-se acerca deste pregador, que se chamava Carlos Finney, que, depois de ele pregar em Governeur, no Estado de New York, não
houve baile nem representação de teatro na cidade durante seis anos.
Calcula-se que, durante os anos de 1857 e 1858, mais de 100 mil pessoas
foram ganhas para Cristo pela obra direta e indireta de Finney. A sua
autobiografia é o mais maravilhoso relato de manifestação do Espírito
Santo, excetuando o livro de Atos dos Apóstolos. Alguns consideram o seu
livro, "Teologia Sistemática", a maior obra sobre teologia, a não ser
as Sagradas Escrituras.
- Como se explica o seu êxito
tão destacado nos anais dos servos da Igreja de Cristo? - Sem dúvida
era, antes de tudo, o resultado da sua profunda conversão.
Nasceu de uma família
descrente e se criou em um lugar onde os membros da igreja conheciam,
apenas, a formalidade fria dos cultos. Finney era advogado; ao
encontrar, nos seus livros de jurisprudência, muitas citações da Bíblia
comprou um exemplar com a intenção de conhecer as Escrituras. O
resultado foi que, após a leitura, achou mais e mais interesse nos
cultos dos crentes. Acerca da sua conversão ele relata, na sua
autobiografia, o seguinte:
"Ao ler a Bíblia,
ao assistir às reuniões de oração, e ouvir os sermões de senhor Gale,
percebi que não me achava pronto a entrar nos céus... Fiquei
impressionado especialmente com o fato de as orações dos crentes,
semana após semana, não serem respondidas. Li na Bíblia: 'Pedi e
dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á'. Li,
também, que Deus é mais pronto a dar o Espírito Santo aos que lho
pedirem, do que os pais terrestres a darem boas coisas aos filhos. Ouvia
os crentes pedirem um derramamento do Espírito Santo e confessarem,
depois, que não o receberam.
"Exortavam uns aos outros a se despertarem para pedir, em oração, um derramamento do Espírito de Deus e afirmavam que assim haveria um avivamento com a conversão
de pecadores... Mas ao ler mais a Bíblia, vi que as orações dos crentes
não eram respondidas porque não tinham fé, isto é, não esperavam que
Deus lhes daria o que pediam... Entretanto, com isso senti um alívio
acerca da veracidade do Evangelho... e fiquei convicto de que a Bíblia,
apesar de tudo, é a verdadeira Palavra de Deus.
"Foi num domingo de 1821 que assentei no coração
resolver o problema sobre a salvação da minha alma e ter paz com Deus.
Apesar das minhas grandes preocupações como advogado, resolvi seguir
rigorosamente a determinação de ser salvo. Pela providência de Deus,
não me achei muito ocupado nem segunda nem terça-feira, e consegui
passar a maior parte do tempo lendo a Bíblia e orando.
"Mas ao encarar a situação
resolutamente, achei-me sem coragem para orar sem tapar o buraco da
fechadura. Antes deixava a Bíblia aberta na mesa com os outros livros e
não me envergonhava de lê-la diante do próximo. Mas então, se entrasse
alguém, eu colocaria um livro aberto sobre a Bíblia para escondê-la.
"Durante a segunda e a terça-feira,
a minha convicção aumentou, mas parecia que o coração se havia
endurecido: eu não podia chorar, nem orar... Terça-feira, à noite,
senti-me muito nervoso e parecia-me estar perto da morte. Reconhecia
que, se eu morresse, por certo iria para o Inferno.
"De manhã
cedo, fui para o gabinete... Parecia que uma voz me perguntava: - 'Por
que esperas? Não prometes-te dar o coração a Deus? O que experimentas
fazer? - alcançar a justificação pelas obras?' Foi então que vi,
claramente, como qualquer vez depois, a realidade e a plenitude da
propiciação de Cristo. Vi que sua obra era completa e, em vez de eu
necessitar duma justiça própria para Deus me aceitar, tinha de
sujeitar-me à justiça de Deus por intermédio de Cristo... Sem o saber,
fiquei imóvel, não sei por quanto tempo, no meio da rua, no lugar onde a
voz de dentro se dirigiu a mim. Então me veio a pergunta: -
'Aceitá-lo-ás, agora, hoje?' Repliquei: - 'Aceita-lo-ei hoje ou me
esforçarei para isso até morrer...' Em vez de ir ao gabinete, voltei
para entrar na floresta, onde podia derramar a alma sem alguém me ver
nem me ouvir."Porém,
o meu orgulho continuava a se manifestar; passei por cima dum alto e
andei furtivamente atrás duma cerca, para que ninguém me visse, e
pensasse que ia orar. Penetrei dentro da mata cerca de meio quilômetro,
onde achei um lugar mais escondido entre algumas árvores caídas. Ao
entrar, disse a mim mesmo: 'Entregarei o coração a Deus, ou então não
sairei daqui'.
"Mas ao tentar orar, o coração
não queria. Pensara que, uma vez sozinho, onde ninguém pudesse
ouvir-me, podia orar livremente. Porém, ao experimentar fazê-lo,
achei-me sem coisa alguma a dizer a Delis. Toda a vez que tentava orar,
parecia-me ouvir alguém chegando.
"Por fim, achei-me quase em desespero. O coração
estava morto para com Deus e não queria orar. Então reprovei-me a mim
mesmo por ter-me comprometido a entregar o coração a Deus antes de sair
da mata. Comecei a pensar que Deus já me tivesse abandonado... Achei-me
tomado de uma fraqueza demasiadamente grande para ficar de joelhos.
"Foi justamente nessa altura que pensei novamente que ouvia alguém
se aproximando e abri os olhos para ver. Logo foi-me revelado que o
orgulho do meu coração era a barreira entre mim e a minha salvação. Fui
vencido pela convicção do grande pecado de eu envergonhar-me se alguém
me encontrasse de joelhos perante Deus, e bradei em alta voz que não
abandonaria o lugar, nem que todos os homens da terra e todos os
demônios do Inferno me cercassem. Gritei: 'Ora, um vil pecador como eu,
de joelhos perante o grande e santo Deus, e confessando-lhes os
pecados, e me envergonho dele perante o próximo, pecador também, porque
me encontro de joelhos para achar paz com o meu Deus ofendido!' O
pecado parecia-me horrendo, infinito. Fiquei quebrantado até o pó
perante o Senhor. Nessa altura, a seguinte passagem me iluminou: 'Então
me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E
buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso
coração...'
"Continuei a orar e a receber promessas e a apropriar-me delas, não sei por quanto tempo. Orei até que sem saber como, achei-me voltando para a estrada. Lembro-mede que disse a mim mesmo: 'Se eu me converter, pregarei o Evangelho'.
"Na estrada, voltando para a aldeia, certifiquei-me da preciosa paz e da gloriosa calma na minha mente. - 'Que é
isso?' Perguntei-me a mim mesmo. - 'Entristecera eu o Espírito Santo
até retirar-se de mim? Não sinto mais convicção...' Então lembrei-me de
que dissera a Deus, que confiaria na sua Palavra... A calma de meu
espírito era indescritível... Fui almoçar, mas não tinha vontade de
comer. Fui ao gabinete, mas meu sócio não voltara do almoço. Comecei a
tocar a música de um hino no rebecão, como de costume. Porém, ao
começar a cantar as palavras sagradas, o coração parecia derreter-se e
só podia chorar...
"Ao entrar e fechar a porta atrás
de mim, parecia-me ter encontrado o Senhor Jesus Cristo face a face.
Não me entrou na mente, na ocasião, nem por algum tempo depois, que era
apenas uma concepção mental. Ao contrário, parecia-me que eu o
encontrara como encontro qualquer pessoa. Ele não disse coisa alguma,
mas olhou para mim de tal forma, que fiquei quebrantado e prostrado aos
seus pés. Isso, para mim, foi, depois, uma experiência extraordinária,
porque parecia-me uma realidade, como se Ele mesmo ficasse em pé perante
mim, e eu me prostrasse aos seus pés e lhe derramasse a minha alma.
Chorei alto e fiz tanta confissão quanto foi possível, entre soluços.
Parecia-me que lavava os seus pés com as minhas lágrimas; contudo, sem
sentir ter tocado na sua pessoa...
"Ao virar-me para me sentar, recebi o poderoso batismo com o Espírito
Santo. Sem o esperar, sem mesmo saber que havia tal para mim, o
Espírito Santo desceu de tal maneira, que parecia encher-me corpo e
alma. Senti-o como uma onda elétrica que me traspassava repetidamente.
De fato, parecia-me como ondas de amor liquefeito; porque não sei outra
maneira de descrever isso. Parecia o próprio fôlego de Deus.
"Não existem palavras para descrever o maravilhoso amor derramado no meu coração. Chorei de tanto gozo
e amor que senti; acho melhor dizer que exprimi, chorando em alta voz,
as inundações indizíveis do meu coração. As ondas passaram sobre mim,
uma após outra, até eu clamar: 'Morrerei, se estas ondas continuarem a passar sobre mim!.Senhor, não suporto mais!' Contudo, não receava a morte.
"Não
sei por quanto tempo este batismo continuou a passar sobre mim e por
todo o meu ser. Mas sei que era já noite quando o dirigente do coro veio
ao gabinete para me visitar. Encontrou-me nesse estado de choro aos
gritos e perguntou: - 'Sr. Finney, que tem?' Por algum tempo não pude
responder-lhe. Então ele perguntou mais: - 'Está sentindo alguma dor?'
Com dificuldade respondi: - Não, mas sinto-me demasiado feliz para
viver.
"Saiu e, daí
a pouco, voltou acompanhado por um dos anciãos da igreja. Esse ancião
sempre foi um homem de espírito ponderado e quase nunca ria. Ele, ao
entrar, encontrou-me no mesmo estado, mais ou menos, como quando o
rapaz o foi chamar. Queria saber o que eu sentia e eu comecei a lhe
explicar. Mas, em vez de responder-me, foi tomado de um riso
espasmódico. Parecia impossível evitar o riso que procedia do fundo do
seu coração."
Nessa altura, entrou certo rapaz que começara
a freqüentar os cultos da igreja. Presenciou tudo por alguns momentos,
até cair ao chão em grande angústia de alma, clamando: "Orem por mim!"
O ancião da igreja e o outro crente oraram e depois Finney também orou e logo após todos se retiraram deixando Finney sozinho.
Ao deitar-se para dormir, Finney adormeceu, mas logo se acordou, por causa do amor que lhe transbordava do coração. Isso aconteceu repetidas vezes durante a noite. Sobre isso ele escreveu depois:
"Quando me acordei, de manhã,
a luz do sol penetrava no quarto. Faltam-me palavras para exprimir os
meus sentimentos ao ver a luz do sol. No mesmo instante, o batismo do
dia anterior voltou sobre mim. Ajoelhei-me ao lado da cama e chorei pelo
gozo que sentia. Passei muito tempo sem poder fazer coisa alguma senão
derramar a alma perante Deus".
Durante o dia, o povo se ocupava em falar na conversão do advogado. Ao anoitecer, sem qualquer anúncio do culto, ajuntou-se uma multidão no templo. Quando Finney relatou
o que Deus fizera na sua alma, muitos foram profundamente comovidos;
um, sentiu-se tão convicto que voltou a casa sem o chapéu. Certo
advogado afirmou: "É claro que ele é sincero; mas que enlouqueceu, é
evidente." Finney falou e orou com grande liberdade. Realizavam-se
cultos todas as noites por algum tempo, aos quais assistiam pessoas de
todas as classes. Esse grande avivamento espalhou-se para muitos lugares
em redor.
Finney continuou:
"Por oito dias [depois da sua conversão) o meu coração permanecia tão
cheio, que não sentia desejo de comer nem de dormir. Parecia-me que
tinha um manjar para comer que o mundo não conhecia. Não sentia
necessidade de alimentar-me nem de dormir... Por fim, cheguei a ver que
devia comer como de costume e dormir quanto fosse possível.
"Grande poder acompanhava a Palavra de Deus; todos os dias admirava-me
ao notar como poucas palavras, dirigidas a uma pessoa, traspassavam-lhe
o coração como uma seta.
"Não demorei muito em ir visitar meu pai. Ele não era salvo; o único
membro da família que fizera profissão de religião era meu irmão mais
novo. Meu pai encontrou-me no portão e me perguntou: - 'Como tem
passado, Carlos?' Respondi-lhe: - Bem, meu pai, tanto no corpo como na
alma. Meu pai, o senhor já é idoso, todos os seus filhos estão
crescidos e casados; e nunca ouvi alguém orar na sua casa. Ele baixou a
cabeça e começou a chorar, dizendo: - 'É verdade, Carlos; entre, e você
mesmo ore'.
"Entramos e oramos. Meus pais ficaram comovidos e, não muito depois,
converteram-se. Se a minha mãe tinha qualquer esperança antes, ninguém o
sabia".
Assim, esse advogado, Carlos G. Finney, perdeu todo o gosto pela sua
profissão e se tornou um dos mais famosos pregadores do Evangelho.
Acerca de seu método de trabalhar, ele escreveu:
"Dei grande ênfase à oração como indispensável, se realmente queríamos
um avivamento. Esforçava-me por ensinar a propiciação de Jesus Cristo,
sua divindade, sua missão divina, sua vida perfeita, sua morte vicária,
sua ressurreição, a necessidade de arrependimento e de fé, a
justificação pela fé, e outras doutrinas que se tornaram vivas pelo
poder do Espírito Santo.
"Os meios empregados eram simplesmente pregação, cultos de oração, muita
oração em secreto, intensivo evangelismo pessoal e cultos para a
instrução dos interessados.
"Eu tinha o costume de passar muito tempo orando; acho que, às vezes, orava realmente sem cessar. Achei,
também, grande proveito em observar freqüentemente dias inteiros de
jejum em secreto. Em tais dias, para ficar inteiramente sozinho com
Deus, eu entrava na mata, ou me fechava dentro do templo..."
Vê-se no seguinte, a maneira como Finney e seu companheiro de
oração, o irmão Nash, "bombardeavam" os céus com as suas intercessões:
"Quase um quilômetro distante da residência do senhor S, morava certo
adepto do universalismo. Nos seus preconceitos religiosos, recusava-se a
assistir aos cultos. Certa vez o irmão Nash, que se hospedava comigo na
casa do senhor S, retirou-se para dentro da mata para lutar em oração,
sozinho, bem cedo de madrugada, conforme seu costume. A atmosfera era
tal nessa ocasião que se ouvia qualquer som de longe. O universalista ao
levantar-se, de madrugada, saiu de casa e ouviu a voz de quem orava, e,
apesar de não compreender muitas das palavras, reconheceu quem orava. E
isso traspassou-lhe o coração como uma flecha. Sentiu a realidade da
religião como nunca. A flecha permanecia. E ele achou alívio somente
crendo em Cristo".
Acerca do espírito de oração, Finney afirmou que "era coisa comum nesses
avivamentos, os recém-convertidos se acharem tomados pelo desejo de
orar noites inteiras até lhes faltarem as forças físicas. O Espírito
Santo constrangia grandemente o coração dos crentes, e sentiam
constantemente a responsabilidade pela salvação das almas imortais. A
solenidade da mente se manifestava no cuidado com que falavam e se
comportavam. Era muito comum encontrar crentes juntos caídos de joelhos
em oração em vez de ocupados em palestras".
Em certo tempo, quando as nuvens de perseguição enegreciam cada vez
mais, Finney, como era seu costume sob tais circunstâncias, sentia-se
dirigido a dissipá-las, orando. Em vez de falar pública ou
particularmente acerca das acusações, ele orava. Acerca da sua
experiência escreveu: "Eu olhava para Deus com grande anelo, dia após
dia, rogando que Ele me mostrasse o plano a seguir e a graça para
suportar a borrasca... O Senhor mostrou-me, em uma visão, o que eu
tinha de enfrentar. Ele chegou-se tão perto de mim, enquanto eu orava,
que a minha carne literalmente estremecia sobre os ossos. Eu tremia da
cabeça aos pés, sob o pleno conhecimento da presença de Deus".
Acrescentamos mais um exemplo, tirado da sua autobiografia, da maneira de o Espírito Santo operar na sua pregação:
"Ao chegar, na hora anunciada para iniciar o culto, achei o prédio da
escola repleto e tinha de ficar em pé perto da entrada. Cantamos um
hino, isto é, o povo pretendia cantar. Entretanto, eles não tinham o
costume de cantar os hinos de Deus, e cada um desentoava à sua própria
maneira. Não podia conter-me e lancei-me de joelhos e comecei a orar. O
Senhor abriu as janelas dos céus, derramou o espírito de oração e
entreguei-me de toda a alma a orar.
"Não escolhera um texto, mas logo ao levantar-me dos joelhos, eu disse:
Levantai-vos, saí deste lugar, porque o Senhor há de destruir a cidade .
Acrescentei que havia dois homens, um se chamava Abraão, e outro, Ló...
Contei-lhes como Ló se mudara para Sodoma... O lugar era
excessivamente corrupto... Deus resolveu destruir a cidade e Abraão
orou por Sodoma. Mas os anjos acharam somente um justo lá, era Ló. Os
anjos disseram: 'Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas
filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar;
porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem engrossado
diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo'.
"Ao relatar estas coisas, os ouvintes se mostraram irados a ponto de me
açoitarem. Nessa altura, deixei de pregar e lhes expliquei que
compreendera que nunca se realizara culto ali e que eu tinha o direito
de, assim, considerá-los corruptos. Salientei isso com mais e mais
ênfase e, com o coração cheio de amor até não poder mais conter-me.
"Depois de eu assim falar cerca de quinze minutos, parecia cair sobre
os ouvintes uma tremenda solenidade e começaram a cair ao chão,
clamando e pedindo misericórdia. Se eu tivesse tido uma espada em cada
mão, não os poderia derrubar tão depressa como caíram. De fato, dois
minutos depois de os ouvintes sentirem o choque do Espírito vir sobre
eles, quase todos estavam ou caídos de joelhos ou prostrados no chão.
Todos os que podiam falar de qualquer maneira, oravam por si mesmos.
"Tive de deixar de pregar, porque os ouvintes não prestavam mais
atenção. Vi o ancião que me convidara para pregar, sentado no meio do
salão, olhando em redor, estupefato. Gritei bem alto para ele ouvir,
apesar da balbúrdia, pedindo-lhe que orasse. Caiu de joelhos e começou a
orar em voz retumbante; mas o povo não prestou atenção. Gritei: Vós não
estais ainda no Inferno; quero dirigir-vos a Cristo. O coração
transbordava de gozo ao presenciar tal cena. Quando pude dominar os meus
sentimentos, virei-me para um rapaz que estava perto de mim, consegui
atrair a sua atenção e preguei Cristo, em voz bem alta, ao seu ouvido.
Logo, ao olhar para a 'cruz' de Cristo, ele acalmou-se por um pouco e
então rompeu em oração pelos outros. Depois fiz o mesmo com um outro;
depois com mais outro e continuei assim tratando com eles até a hora do
culto da noite, na aldeia. Deixei o ancião que me convidara a pregar,
para continuar a obra com os que oravam.
"Ao voltar, havia tantos clamando a Deus que não podemos encerrar a
reunião, que continuou o resto da noite. Ao amanhecer o dia, alguns
ainda permaneciam com a alma ferida. Não se podiam levantar e, para dar
lugar às aulas, foi necessário levá-los a uma residência não muito
distante. De tarde mandaram chamar-me porque ainda não findara o culto.
"Só nesta ocasião cheguei a saber a razão de o auditório agastar-se da
mensagem. Aquele lugar cognominava-se 'Sodoma' e havia somente um homem
piedoso lá a quem o povo tratava de 'Ló'. Era o ancião que me convidara a
pregar."Depois de já velho, Finney escreveu acerca do que o Senhor
fez em "Sodoma". "Embora esse avivamento caísse tão repentinamente sobre
eles era tão empolgante que as conversões eram profundas e a obra
permanente e genuína. Nunca ouvi falar em qualquer repercussão
desfavorável."
Não foi só na América do Norte que Finney viu o Espírito Santo cair e
abater os ouvintes em terra. Na Inglaterra, durante os nove meses de
evangelização, que Finney promoveu lá, multidões também se prostraram
enquanto ele pregava - em certa ocasião mais de dois mil, de uma vez.
Alguns pregadores confiam na instrução e ignoram a obra do Espírito
Santo. Outros, com razão, rejeitam tal ministério infrutífero e sem
graça; oram a Deus para o Espírito Santo tomar conta e alegram-se no
grande progresso da obra de Deus. Mas, ainda outros, como Finney,
dedicam-se a buscar o poder do Espírito Santo, sem desprezar a arma de
instrução, e vêem resultados incrivelmente mais vastos.
Durante os anos de 1851 a 1866, Finney foi diretor do Colégio de
Oberlin e ensinou a um total de 20 mil estudantes. Dava mais ênfase ao
coração puro e ao batismo com o Espírito Santo do que à preparação do
intelecto; de Oberlin saiu uma corrente contínua de alunos cheios do
Espírito Santo. Assim, depois dos anos de uma campanha intensiva de
evangelismo e no meio dos seus esforços no colégio, "em 1857, Finney via
cerca de 50 mil, todas as semanas, converterem-se a Deus." (By My Spirit, Jônathan Goforth, p. 183.) Os diários de New York, às vezes quase não publicavam outras notícias, senão do avivamento.
Suas lições aos crentes sobre avivamento foram publicadas, primeiro
em um jornal e depois em um livro de 445 páginas e que se intitulava
"Discursos Sobre Avivamentos". As primeiras duas edições, de 12 mil
exemplares, foram vendidas logo ao saírem do prelo. Outras edições
foram impressas em vários idiomas. Uma só editora em Londres publicou
80 mil. Entre suas outras obras de circulação mundial, contam-se as
seguintes: sua "Autobiografia", "Discursos aos Crentes" e "Teologia
Sistemática".
Os convertidos nos cultos de Finney eram pela graça constrangidos a
andar de casa em casa para ganhar almas. Ele mesmo se esforçava para
preparar o maior número de obreiros em Oberlin College. Mas o desejo que
ardia sempre em tudo era o de transmitir a todos o espírito de
oração. Pregadores como Abel Câry e Father Nash viajavam com ele e,
enquanto ele pregava, eles continuavam prostrados em oração. Vejamos
isso nas palavras de Finney:
"Se eu não tivesse o espírito de oração, não alcançaria coisa alguma. Se
por um dia, ou por uma hora eu perdesse o espírito de graça e de
súplica, não poderia pregar com poder e fruto, e nem ganhar almas
pessoalmente."
Para que alguém não julgue que a obra era superficial, citamos outro
escritor: "Descobriu-se, por pesquisa empolgante, que mais de 85
pessoas de cada 100 que se convertiam sob a pregação de Finney,
permaneciam fiéis a Deus; enquanto 75 pessoas de cada cem, das que
professaram conversão nos cultos de algum dos maiores pregadores, se
desviavam. Parece que Finney tinha o poder de impressionar a
consciência dos homens, sobre a necessidade de um viver santo, de tal
maneira que produzia fruto mais permanente." (Deeper Experiences of Famous Christians, p. 243.)
Finney continuou a inspirar os estudantes de Oberlin College até a
idade de 82 anos. Já no fim da vida, permanecia tão lúcido de mente
como quando jovem e sua vida nunca foi tão rica no fruto do Espírito e
na beleza da sua santidade do que nesses últimos anos. No domingo, 16 de
agosto de 1875, pregou seu último sermão. Mas de noite não assistiu ao
culto. Ao ouvir os crentes cantarem "Jesus lover of my soul, let me to
Thy bosom fly", saiu até o portão na frente da casa, e com estes que
tanto amava, foi a última vez que cantou na terra. Acordou-se à
meia-noite, sofrendo dores lancinantes no coração. Sofrera assim muitas
vezes durante a sua vida. Semeara as sementes de avivamento e as
regara com lágrimas. Todas as vezes que recebeu o fogo da mão de Deus,
foi com sofrimento. Finalmente, antes de amanhecer o dia, dormiu na
terra para acordar na Glória, nos céus. Faltavam-lhe apenas treze dias
para completar 83 anos de vida aqui na terra.
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